segunda-feira, 25 de março de 2019

O que é magia do caos?

Austin Osman Spare em seu ateliê (1938)

por Catherine Beyer 
(original)
tradução por Tagus


(o texto não representa
necessariamente
a opinião do coletivo)

É difícil definir magia do caos porque definições são compostas de elementos comuns. Mas, por conceito, magia do caos não possui elementos comuns. Ela consiste em utilizar quaisquer ideias e práticas que sejam úteis em dado momento, mesmo que contradigam ideias e práticas que já tenham sido utilizadas pelo mesmo magista anteriormente.

Magia do caos x sistema eclético

Há muitas práticas ecléticas, mágicas ou religiosas. Em ambos os casos o praticante lança mão de múltiplas fontes para desenvolver um sistema novo e pessoal que falará especificamente a si. Na magia do caos um sistema pessoal nunca é desenvolvido. O que foi utilizado ontem pode ser irrelevante hoje. Tudo que importa hoje é aquilo que é usado hoje. A experiência pode ajudar os magos do caos a saber o que costuma ser útil, mas nunca estarão restritos à ideia de tradição e nem mesmo à de coerência.

Tentar algo fora do ordinário, "fora da caixinha", fora dos paradigmas com os quais se está acostumado, isso é magia do caos. Mas se o que resultar disso se torna codificado ou sistematizado, deixa de ser magia do caos.

Poder da crença

O poder da crença é importante em muitas escolas mágicas de pensamento. Magos impõem sua vontade sobre o universo, convencidos de que a magia funcionará para que de fato funcione. Esse entendimento da magia implica em dizer ao universo o que deve fazer. Mas não se trata de simplesmente "pedir" ou "esperar" que o universo faça algo.

Os magos do caos devem crer, no contexto em que estão agindo, e então posteriormente deixar de lado tal crença para que estejam abertos a novas abordagens. Mas a crença não é algo que se obtém após uma série de experiências. Ela é o próprio veículo para as experiências, manuseadas rumo ao objetivo.

Por exemplo, praticantes ecléticos podem utilizar um athame, um punhal cerimonial, por estarem se valendo de referências de sistemas que geralmente utilizam athames. Há finalidades para os athames, e se um mago quer tal objetivo é então lógico que utilize um athame porque acredita que tal é a finalidade do punhal.

O mago do caos, por outro lado, decide que um athame funcionará para sua empreitada atual. Ele abraça esse "fato" com completa convicção durante toda duração da empreitada.

Simplicidade na forma

Magia do caos geralmente é muito menos complexa do que a magia cerimonial, que depende de crenças específicas e de antigos ensinamentos ocultos sobre como o universo funciona, como as coisas se relacionam entre si, como alcançar os diversos poderes etc. Tal magia cerimonial frequentemente se referencia na autoridade de vozes da antiguidade, como passagens bíblicas, ensinamentos da Kabbalah judaica ou a sabedoria dos antigos gregos.

Nada disso importa na magia do caos. O contato com a magia é pessoal, voluntarioso e psicológico. Os rituais fazem com o que o praticante entre no estado mental adequado, mas não têm valor fora disso. Nesse sentido, as palavras não têm poder em si.

Principais nomes

Peter J. Carroll é frequentemente creditado como sendo o "inventor" da magia do caos, ou ao menos de seu conceito. Organizou uma variedade de grupos de magia do caos ao longo das décadas de 1970 e '80, apesar de ter se afastado deles. Seus livros sobre o assunto são considerados leitura obrigatória para os interessados no tema.

Os trabalhos de Austin Osman Spare também são considerados leitura básica para os interessados em magia do caos. Spare morreu nos anos de 1950, antes de Carroll começar a escrever. Não concebeu algo chamado "magia do caos", mas muitas de suas crenças mágicas foram incorporadas à teoria da magia do caos. Era particularmente interessado na influência da psicologia na prática mágica, quando a psicologia ainda começava a ser levada a sério.

Durante seus estudos mágicos, Spare cruzou caminhos com Aleisteir Crowley, que deu uns passos além da magia cerimonial, o tradicional sistema de magia intelectual (isto é, não popular) no século XX. Crowley, como Spare, considerava as formas tradicionais de mágica como sendo travadas e inchadas, de modo que "enxugou" algumas cerimônias e enfatizou o poder da vontade, apesar de ter criado ele próprio uma escola mágica em si.

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